sexta-feira, 6 de maio de 2011

Introdução a Dostoiévski

 Queridos amigos, 

      Certa vez, recebi um comentário sobre um filme baseado no romance Crime e Castigo, uma das obras mais substanciais do realismo russo. Nesse comentário, havia um questionamento sobre o filme dessa mesma obra e eu reitero que é necessário que se saiba exatamente que produção é esta, pois a literatura russa, entre as décadas de 20 e 60, foi terreno fértil para a sétima arte. Inúmeras obras receberam uma formatação cinematográfica mas nem todas elas foram bem sucedidas.
      Particularmente, no caso de Fiódor Dostoiévski, o narrador, que é anônimo e onisciente, traça o perfil de uma gama imensa de personagens que vêm e vão conforme sua importância na narrativa. São as famosas vozes dostoievskianas que retratam uma Rússia que caminhava a passos largos para o colapso político altamente destrutivo. Em romances psicológicos como Crime e Castigo e Irmãos Karamázov, nada é por acaso e como os personagens parecem saídos da vida para as páginas, talvez seja este o motivo de tanta cobiça fílmica.
   Obviamente, o cinema tem uma nova vertente narrativa para a literatura mas, muitas vezes, escondeu-se por detrás da essência literária, ou seja, da linguagem e isso pode ser escorregadio se não houver um foco cinematográfico que ande em paralelo com o texto. Acredito que por serem temas atuais inerentes a um âmbito realista, romances como os de Dostoiévski merecem uma simbologia, via cinema, que seja adequada ao novo tipo de linguagem e que não seja encaixada na padronagem hollywoodiana.
       Sem dúvida, as melhores adaptações de obras russas para o cinema são as locais produzidas pela Rússia Soviética através do estúdio MOSFILM que tinha por hábito levar o que há de melhor na literatura para as telonas. Hábito que continua até os dias de hoje em que vemos grandes clássicos russos adaptados para a tv aberta.
       Se as adaptações russas não forem alcançáveis, há boas produções  de autores russos disponíveis no Brasil como:
O Idiota, de Akira Kurosawa (1951), Irmãos Karamazov, de Richard Brooks (1957). Outras obras como Anna Karênina, de Bernard Rose (1997), Guerra e Paz, de King Vidor e Olhos Negros (baseado no conto A dama e o cachorrinho), de A.Tchekhov), de Nikita Mikhailov (1978) com o ator italiano Marcello Mastroianni, aos meus olhos, ficaram de menor calibre ao terem suas releituras exíguas dentro da capacidade fílmica que poderiam ter tido.  Particularmente, eu recomendo o filme A mãe, de Vsevolod Pudovkin(1924)  que é baseado na obra homônima de Maksim Górki. É um filme mudo que retrata, como poucos, a militância política em tempos de miséria, de da pão e de alma. É fácil encontrar esse  filme que é um dos clássicos que englobam a coleção do Cinema Revolucionário Soviético (foto abaixo). Com relação ao filme Crime e Castigo, de Joseph Sargent (1999), compartilho da opinião de que a versão é pálida, pois não tem o vigor necessário em seu protagonista, Ródia Raskolnikov, mas tem seus méritos com boas alocações externas e uma atuação firme, porém discreta, de Ben Kingsley no papel do inspetor de polícia Porfíri Pietróvtich.

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