sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tolstói na ABL - O centenário da morte de um mestre

Prezados,

         No dia 14/12/ 2010, estive na Academia Brasileira de Letras - ABL (Rio de Janeiro) para assistir à mesa-redonda sobre o centenário de morte do escritor russo Liév Tolstói. Participaram do debate os acadêmicos Moacyr Scliar (in memoriam) e Carlos Nejar, coordenados por Sérgio Paulo Rouanet.
         Devo dizer que, para mim, foram palestras muito elucidativas e interessantes sob o ponto de vista biográfico. Sendo assim, darei agora a vocês, a minha visão sobre esse memorável autor Líév Nikolaievitch Tolstói (1828-1910). Não falarei nada sobre sua biografia, mesmo sabendo que a sua obra e a história russa são indissociáveis. Nesse primeiro momento, prefiro falar de forma panorâmica sobre o realismo russo e de como Tolstói se enquadrava nessa tendência literária.
         Assumindo cada vez mais uma maior proximidade com o leitor, a prosa russa propõe contratos de leitura que admitem efeitos autobiográficos e/ou de realismo, evitando o risco de hermetismo e incorporando a linguagem cotidiana, recusando o apoio sistemático na metáfora ou na imagem, optando por uma formulação mais narrativa embora sem excluir a possibilidade de ser lida a um nível mais elaborado, até pelo fato de frequentemente desenvolver relações intertextuais de grande complexidade teórica. Essas características são plenamente visíveis em obras de resquícios autobiográficos como algumas das primeiras produções tolstoianas Infância, Adolescência e Juventude.
         As leituras realistas dessa época põem em evidência a autoreferencialidade e recusam qualquer tipo de mecanismo referencial que não seja de ordem denotativa, ou seja, real e esse fato leva -nos a concluir que, não havendo denotação, descrição de fatos, não há qualquer outro mecanismo referencial em presença. E este processo que se destaca  através da expressão somatização estrutural: um processo pelo qual o texto põe em evidência as suas características discursivas, fazendo dessas propriedades objeto de referência – isto é, mostrando-as de forma radical, forçando o leitor a tornar-se sensível à própria condição do texto enquanto objeto de linguagem que perante si estremece, ou se desagrega, ou se indefine, ou se fragmenta – alude a uma experiência do mundo que só assim parece tornar-se dizível. Essas intermitências do ser me parecem ser o grande ingrediente da prosa de Tolstói  tão visíveis em dramas internos de personagens como Anna Karênina, uma das grandes obras-primas do autor.
          Nos romances de Tolstoi há muito das regras do gênero épico (vide Guerra e paz), porém ele não se prendeu a normas e processos de perspectiva literárias. Os romances foram feitos a seu modo, não dando aos romances um enredo ou tramas, nos moldes clássicos da narrativa de ficção, nem deu segmento lógico e ordenado ao relato e sim adota o princípio dos quadros distintos, como se não participassem intrinsecamente das narrativas geral. Tolstói intercalou os episódios de mera ficção com digressões de fundo puramente histórico, documentados, com reflexões filosóficas que são ferramentas para dar calmaria em situações tensas dos romances.
         Hoje, falei apenas de romances, mas gostaria de frisar que Tolstói também alcançou maestria escrevendo contos. Considerado um dos melhores contos da história, a crítica destaca A morte de Ivan Ilitch. Concordo plenamente com que esse conto é, de fato, maravilhoso, pois em pouquíssimas páginas, Tolstói consegue dissertar acerca do tema da solidão da morte e a possível insignificância do ser como ser humano. Como disse Moacyr Scliar na palestra já mencionada, A morte de Ivan Ilicth é mais que um conto, é um “caso clínico” que observa uma patologia que não é física.
         Ainda arrebatada pelas palestras que ouvi, recomendo a vocês todas as obras de Tolstói, mas como são muitas, farei “boca de urna” para algumas delas como o romance Anna Karênina, publicado pela editora Cosac Naify, com tradução direta do russo de Rubens Figueiredo, A morte de Ivan Ilitch, publicado de Editora 34 com tradução direta do russo de Boris Schnaiderman, A felicidade conjugal e O Diabo, publicados pela Editora LP&M Pocket, com tradução também direta do russo feita por Maria Aparecida Botelho Soares.

Leiam e depois podem postar comentários com a opinião de vocês.

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