sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um pouco de Tchékhov

Anton Pavlovitch Tchekhov (1860-1904) é o grande nome das pequenas tragédias e da dramaturgia russa. Contista e dramaturgo, muitos dos princípios artísticos explorados por ele nos primeiros anos de produção permaneceram constantes em toda sua carreira.
Em sua poética, não havia exposições preliminares da situação ou introduções à narrativa, ou explicação das causas da ação. De maneira semelhante, muitos dos aspectos distintivos de sua obra têm a mesma genealogia, como observações sem propósito ou sem sentido nas conversas, que revelam um desentendimento mútuo. Assim, não é a biografia de um personagem ou algum problema universal que fornece a base de uma história cômica, mas sempre uma situação concreta do dia-a-dia. Já em sua prosa tardia, como nos contos A Dama do cachorrinho e A noiva (este, último conto do autor que já apresentava características diferentes dos demais), Tchékhov abordou problemas sociais e psicológicos mais complexos, mas novamente eles não eram explícitos ou centrais na trama. O enredo nunca se baseia nesses problemas, mas em detalhes circunstanciais, que permeiam sua prosa madura assim como sua obra inicial.
A década de 1880 também marca o início da dedicação de Tchekhov à dramaturgia. Sua primeira peça, que se tornou conhecida no Ocidente como Platonov, parece ter sido iniciada quando o autor tinha dezoito anos de idade.
Com o amadurecimento teatral, Tchékhov escreve as suas quatro peças mais famosas: A gaivota, Tio Vânia, As três irmãs e O jardim das cerejeiras tendo como principal responsável pela montagem dos textos de desde A gaivota, de 1896, Stanislávski que entendeu que cada personagem tchekhoviano é envolto numa zona de silêncio e, a partir da convicção de que o verdadeiro drama é a inação, desenvolveu, para essas encenações, não só um método de interpretação, mas também uma forma própria de levar esse dramaturgo ao palco. Seu trabalho, desenvolvido ao longo de anos à frente do Teatro de Arte de Moscou -TAM, apresentou uma forte marca pessoal, o que fica evidente no nome pelo qual esse conjunto de técnicas interpretativas tornou-se conhecido, mesmo a contragosto, o método Stanislávski. De maneira semelhante, os princípios que o orientavam na montagem das peças de Tchekhov apresentavam tamanha particularidade que receberam um termo próprio para designá-los: tchekhovismo. De um modo geral, nas peças de Tchekhov a ausência de sentido do presente converte-se em uma fragmentada esperança com relação ao futuro.
Em linhas gerais, os diálogos tchekhovianos são desprovidos de peso. Eles representam a cor pálida de fundo de onde se destacam os monólogos debruados de réplicas como manchas coloridas em que se condensa o sentido do todo. Assim, constata-se que a obra vive dessas auto-análises resignadas, que quase todas as personagens expressam. Em Tchekhov, as palavras não são pronunciadas no isolamento, mas em sociedade. Nas palavras da Professora Elena Vássina, o Doutor Tchékhov (ele era médico de formação) diagnosticava, mas não receitava. Portanto, o remédio a ser receitado como solução cabe a cada um de nós.
Recentemente, foram traduzidos por Maria Aparecida Botelho Soares, diversos contos de Tchékhov, organizados nos livros A Dama e o Cachorrinho e outras histórias e Um negócio fracassado e outros contos de humor, ambos publicados pela editora L&PM Pocket. Além desses livros, há várias outras peças e contos do autor traduzidos para o português diretamente do russo.


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